PAULO RICARDO
entrevista a Carlos Eduardo F.Bittencourt
exclusiva para o Grupo Um Milhão de Amigos

09.06.1999




Paulo Ricardo está lançando mais um CD, “Amor de verdade”,
em que canta nove músicas do repertório de Roberto Carlos,
além de ter gravado uma música, sua e de Michael Sullivan,
“Como se fosse a primeira vez”, uma homenagem ao nosso Rei.
No escritório da sua gravadora, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro,
ele nos concedeu uma entrevista exclusiva
falando do novo trabalho e da influência de Roberto Carlos em sua vida.


* Quando você começou a se interessar pelas músicas de Roberto Carlos?
"PR" – Eu não me lembro de nada da minha vida que não tenha Roberto Carlos incluído. Eu me recordo que desde criança eu só cantava músicas do Roberto Carlos. Quando era muito pequeno, uma professora me levou para cantar num programa de TV. Depois fiz alguns outros programas de televisão, inclusive o Bolinha, aqui no Rio, e o repertório era sempre de Roberto Carlos. Eu tenho na minha cabeça, muito claro, o dia em que meu pai me levou para ver o filme “Roberto Carlos em ritmo de aventura” e saí maluco do cinema. A partir daquele dia decidi que queria ser cantor.

* Você também foi influenciado pela moda calhambeque?
"PR" – A minha infância inteira foi usando calça com pernas de duas cores – na frente branco, atrás preto – camisa calhambeque, muito jeans. Também tinha aquele bonequinho do Roberto Carlos de “smoking”, tocando guitarra. Eu tinha tudo que era lançado e ficava o dia inteiro cantando músicas dos discos do Roberto Carlos, principalmente do “Roberto Carlos em ritmo de aventura”, do “O inimitável” e do disco de 1969, aquele que tem “As flores do jardim de nossa casa”. Também me lembro que chegava na escola, almoçava vendo o Nacional Kid e logo depois ouvia os discos do Roberto. Essa era a minha rotina.

* Você tem alguma lembrança do programa “Jovem Guarda”?
"PR" – Não muita, tudo apenas muito vago. O que eu conheço é muito mais pelas coisas que revi em vídeotape do que por ter visto na época. Eu peguei mais a fase do Roberto imediatamente depois da Jovem Guarda, com o disco “Em ritmo de aventura”.

* A Jovem Guarda teve alguma influência sobre o RPM?
"PR" – Eu vivia e respirava Roberto Carlos e somente Roberto Carlos. Não me ligava nos outros cantores da Jovem Guarda. Conhecia Erasmo, Wanderléa, Wanderley Cardoso, mas não tinha os discos. O único de quem eu tinha os discos e ficava decorando as músicas era o Roberto. Depois, lá pelos meus onze anos, tive contato com os Bealtes. A partir daí eu quis conhecer um pouco mais do rock internacional. Quando eu montei o RPM tinha chegado de Londres e estava com uma idéia muito clara do que seria o conjunto. Estava distante daquele garoto que curtia o Roberto e um pouco mais ligado ao universo inglês. Com isso, não havia uma coisa própria do Roberto Carlos na música do RPM, mas em todas as entrevistas que fiz naquela época eu sempre declarei que as músicas do Roberto foram as minhas primeiras grandes influências. Eu só fui cantar Roberto Carlos depois de profissional, em 89, num disco ao vivo do Erasmo Carlos, em que cantamos “Eu sou terrível”.

* Como surgiu a idéia do seu novo disco?
"PR" – Para mim é muito sério cantar Roberto Carlos. Esse disco é um tributo, uma homenagem. Quero mostrar nesse CD a modernidade dessas músicas do Roberto, músicas que fizeram a minha cabeça e que foram a base da minha formação.

* No seu novo CD “Amor de verdade”, tem nove músicas do repertório de Roberto e nos seus outros dois discos anteriores há duas músicas que ele gravou: “Nada vai me convencer” e “E não vou deixar você tão só”. Por que dessas onze músicas só “Por amor” é de Roberto e Erasmo?
"PR" – Porque eu percebi que em todos os discos que se lança as músicas da dupla são sempre as mais tocadas nas rádios. Então procurei gravar músicas que não estivessem tão marcadas na voz do Roberto. Eu quis evitar as famosas como “Emoções”, “Cavalgada” e outras. Eu quis ir mais para àquele período que as pessoas chamam de fase “soul music” do Roberto. Por isso não me importei muito com o compositor. A Maria Bethânia, quando lançou “As canções que você fez pra mim”, escolheu só músicas de Roberto e Erasmo. Para mim, “Eu só tenho um caminho” tem uma interpretação tão própria do Roberto Carlos que parece que a música do Getúlio Cortes foi feita por ele. O próprio Renato Barros escreveu um dos maiores rocks gravados pelo Roberto, “Você não serve pra mim”. Eu resolvi buscar músicas que foram importantes na minha vida, sem me preocupar se foram ou não compostas pela dupla Roberto e Erasmo. Talvez até o fato de as músicas da dupla serem as mais tocadas dos discos tenha sido um fator importante para eu não gravá-las, pois eu quis aquelas que não são tão conhecidas.

* Foi difícil escolher o repertório?
"PR" – Foi a coisa mais fácil do mundo. Fui direto no que eu queria. É claro que fiquei na dúvida entre uma e outra música. Também sobraram várias canções de que gosto muito mas elas não combinavam com a linha que estou buscando, que é um romântico-urbano, pop. Eu gosto muito da canção “Folhas de outono”, que é linda, mas não se encaixaria com o que estou procurando, já que ela tem uma linha mais bossa-nova. Também algumas músicas que já haviam sido gravadas antes eu resolvi não incluir, como “Sua estupidez”, que o Paulo Miklos lançou no disco “Rei” e a própria “As canções que você fez pra mim”, gravada pela Bethânia. Tive certos critérios ao excluir algumas músicas, mas de uma maneira geral eu não posso dizer que foi difícil a seleção. Fui direto naquele período da minha fase favorita e fui em cima de um gosto muito pessoal.

* Como foi feita a música “Como se fosse a primeira vez”, que você e o Sullivan fizeram homenageando Roberto Carlos?
"PR" – Foi nossa grande homenagem, um grande tributo à obra de Roberto e Erasmo. Quem é fã, como vocês leitores desse jornal, vai perceber que eu citei, pelo menos dezoito canções do Roberto. Eu quis fazer a música falando como um artista consegue permanecer há quase quarenta anos no topo e sempre renovando. Para quem gosta do Roberto é sempre um prazer vê-lo no palco, esperar com ansiedade o seu disco e o seu Especial de Natal. Ele é um artista que soube crescer com a gente, soube envelhecer com a gente, e que canta como ninguém a crônica da vida do povo brasileiro. Por isso eu procurei na música falar desse relacionamento que temos com sua obra, que se relaciona conosco de uma maneira quase biográfica.

* Tanto Roberto quanto você começaram como roqueiros e se transformaram em cantores românticos. Roberto teve a fase jovem guarda e você a fase RPM. Existem outras comparações que poderiam ser feitas entre vocês?
"PR" – Para mim fica muito difícil imaginar qualquer coisa distante de Roberto Carlos. Ele não é uma pessoa que surge de repente. Ele está na minha vida como está o Hino Nacional, e falo assim porque estudei em escola pública e todo dia de manhã cantava o hino e hasteava a bandeira. Quando eu chegava em casa escutava Roberto Carlos. Então, o Hino Nacional, Roberto Carlos, Pão de Açúcar, Fluminense, tudo isso veio junto, como tivesse sempre existido na minha vida. Naquela época o Roberto era o que havia de mais rock, de mais bacana. Seus filmes eram muito parecidos com os do Elvis Presley e dos Beatles. Ele representava o que havia de melhor no rock internacional e na música romântica brasileira. Para mim Roberto é o universo das coisas que eu gosto, por isso me inspiro cada vez mais no artista e também no ser humano.

* Foi por isso que você falou numa entrevista que hoje entende melhor porque ele fala com as plantas?
"PR" – Sem dúvida ele consegue administrar sua carreira com todo o cuidado. Também aprendo muito com o Roberto ser humano, um cara religioso, uma pessoa super bondosa, muito carismática. Ele tem consciência de que o amor é a grande energia e que tudo está vivo em torno da gente. Não sei se vocês sabem mas ele também fala com as máquinas, agradece a cada uma delas. Eu já usei isso, e funciona.

* Como assim?
"PR" – Uma vez, na casa de um amigo, convidamos algumas pessoas para ouvir o meu CD que estava saindo. Eu estava com uma matriz, não com o disco original. O aparelho do meu amigo era super sofisticado mas eu coloquei o disco e ele não tocava por nada. Ia ser o maior vexame. Ai lembrei do Roberto Carlos e fiz um carinho no aparelho, conversei com ele e pedi para que tocasse o meu disco. Não tive dúvida, ele acabou tocando. Se Roberto conversa com os aparelhos, com as plantas, é porque ele sabe muito bem o que está fazendo. Na verdade, tudo isso é o respeito que ele tem pelas coisas, pelas pessoas, pela vida em si. Esse tipo de coisa mostra o grande ser humano que ele é. Muitas vezes ficamos só ligados na sua imagem, em suas músicas, e na verdade a grande força vem da sua humildade, do seu amor, dessa coisa carinhosa que ele transmite. É isso que procuro aprender, passar na minha música e também levar a essa nova geração que não havia nascido quando Roberto Carlos lançou essas músicas que gravei e que são músicas tão atuais quanto eram na época em que foram lançadas.

* Para quem ainda não comprou o disco, quais foram as músicas escolhidas do repertório de Roberto Carlos?
"PR" – Como eu disse anteriormente, não foi difícil escolher as músicas. Escolhi e gravei: “Sonho lindo”, “Ninguém vai tirar você de mim”, “Por amor”, “Não há dinheiro que pague”, “Muito romântico”, “A namorada”, “Eu só tenho um caminho”, “Uma palavra amiga” e “Você não serve pra mim”.

* Por que “Detalhes”, que você cantou no Globo Repórter Especial dos 50 anos do Roberto Carlos em 1991, não foi incluída?
"PR" – Por uma questão de contrato eu não posso colocá-la em meus discos, já que ela saiu na coletânea “Como é grande o meu amor por você”.

* Como aconteceu o convite para você cantar “Detalhes” no Especial dos 50 anos do Roberto Carlos?
"PR" – Eu recebi uma ligação do Aloísio Legey dizendo que Roberto tinha me escolhido como seu cantor favorito e a Gal Costa como sua cantora favorita. Todos sabem que “Detalhes” é a canção preferida do seu repertório. Eu fiz uma versão especial, que canto em todos os shows e que lamento não poder gravar em meus discos.

* Você acredita que algum dia possa aproveitá-la em seus discos?
"PR" – Por algum motivo contratual, quando você lança uma música por uma gravadora você tem que esperar dez anos para lançá-la por outra. Quem sabe em 2001, quando eu estiver liberado do contrato eu não a coloco em um disco meu?

* Qual a sua música preferida do Roberto Carlos?
"PR" – São muitas músicas mas a que representa um pouco de tudo que gosto do Roberto é “Ninguém vai tirar você de mim”. Ela tem um acorde menor muito marcante; o mesmo acontece com o refrão. É uma canção bem na linha dos Beatles, com uma ingenuidade muito da época dos anos 60. Também gosto muito de “Por amor”, que tem uma letra bem triste.

* Como foram seus encontros com ele?
"PR" – Todos os que tive foram muito ricos, muito marcantes, e sempre fiquei muito nervoso porque, antes de tudo, eu sou seu fã. Eu nunca vou conseguir ver Roberto Carlos como uma pessoa normal.

* Como você está vendo as regravações de tantas músicas da dupla Roberto e Erasmo?
"PR" – Acho que são a prova de que Roberto Carlos é uma instituição da nossa música e é através das regravações que se fazem os clássicos. Eu vejo isso de uma maneira muito natural e para mim, que sempre fui fã do Roberto Carlos, isso me parece óbvio.Talvez até por isso eu quis fazer esse disco, para que ninguém gravasse as minhas músicas favoritas. Mas há todo tipo de regravação do seu repertório. A banda Mastruz com Leite gravou suas músicas em ritmo de forró, agora o Roberto Leal vai lançar um CD cantando Roberto em ritmo de fado. Canções religiosas, regravações de pagodeiros... ele e Erasmo têm mais de quinhentas músicas, um absurdo, uma obra sólida, e acho maravilhoso como os dois conseguem ser tão comuns no meio de várias tendências.

* Quando foi a primeira vez que você esteve com Roberto Carlos?
"PR" – Foi quando eu tinha cinco anos de idade, na inauguração das Casas da Banha, na Tijuca. Eu morava perto, e ele deu um show de inauguração. No final, meu pai me colocou no palco e cheguei perto, mas não consegui falar porque ele estava cercado pelos adultos. Estive próximo e fiquei impressionado com ele. Depois fui a vários shows, mas só voltei a estar pessoalmente com ele e, então, conversei com ele pela primeira vez, em 85, na festa dos 25 anos da Rádio Tupi. Já em 86 conseguimos conversar um pouco mais durante um jantar da gravadora. Na época ele me pediu uma música para gravar.

* Como foi o encontro de vocês em 91, na festa dos 50 anos de Roberto Carlos?
"PR" – Sem dúvida que foi o encontro mais importante que tivemos. Eu fui convidado pela produção do Globo Repórter, que fez um especial de 50 anos, para cantar “Detalhes”. O convite foi feito porque Roberto havia declarado que eu era o seu cantor favorito. Quando me ligaram para fazer o programa e me disseram isso eu não acreditei. E isso aconteceu num dos momentos mais difíceis da minha carreira, o que me ajudou muito a seguir em frente. Se Roberto achava que eu era o seu cantor favorito, então valia a pena seguir em frente.

* Que diferença você vê na música de Roberto Carlos nessas quatro décadas?
"PR" – O segredo de Roberto é a transparência de conseguir cantar o que está vivendo e a partir daí fazer com que as pessoas se identifiquem com o seu trabalho em cada fase, a cada novo passo em sua carreira. Nos anos 60, quando jovem, ele cantava músicas sobre carrões, namoradinhas, beijinhos no cinema, coisas que qualquer garoto da sua idade na época curtia. Depois começou a buscar um caminho romântico, ligado à influência da “soul-music”. Então apareceram suas primeiras músicas religiosas: “Jesus Cristo”, “Eu só tenho um caminho”, “Todos estão surdos”. Em seguida, mais velho, já casado e com filhos, Roberto gravou “Quando as crianças saírem de férias”, começando a fazer uma análise da sua vida, o que continuou com “O divã” e “Traumas”. Nos anos 80 e 90, já como o grande Rei, ele apareceu numa linha mais clássica, com grandes orquestras em suas músicas, e cantando músicas que falam do povo brasileiro, “Caminhoneiro”, “O taxista”. Surgem as homenagens para as baixinhas, as gordinhas, as mulheres de 40, musas diferentes das que ele tinha cantando antes. Eu acho que Roberto tem uma produtividade inacreditável.

* Como você explica o fato de Roberto Carlos estar há tanto tempo nas paradas de sucesso?
"PR" – Porque ele é o cara que mais trabalha no show business. Não existe nenhum outro com uma discografia tão grande e com o seu ritmo de trabalho. Sempre trabalhou muito e fala direto nas músicas. Quando quis homenagear sua mãe, ele não fez rodeio, foi direto aos seus sentimentos e gravou “Lady Laura”. Ao falar do amigo mostrou seu “amigo de fé”. Outros artistas ficam enrolando nas homenagens. Eu acho que isso é uma qualidade admirável. Quando ele quer falar de Deus ele grava “Quando eu quero falar com Deus”, e pronto. Acho que é um artista que está sabendo cantar em suas músicas a passagem do tempo. Roberto Carlos não tem preocupação em não querer envelhecer, o que é uma coisa tão comum na música brasileira. Ele trata da passagem do tempo com a maior dignidade. É claro que cada um tem sua fase predileta, suas músicas preferidas, mas o simples fato de um artista como ele já atingido o que já atingiu e continuar trabalhando é admirável. Ele não precisava mais continuar nesse ritmo.

* Qual a música que você fez e que ele iria gravar no disco do ano passado?
"PR" – Era “Como se fosse a primeira vez”. Mas eu acho que as coisas acontecem como têm que acontecer e eu acabei gravando a música. Foi uma homenagem que fiz a ele. Ficou muito sincero. Foi uma homenagem àquele que é o maior nome da música brasileira.

* Você acha que pode ser um substituto de Roberto Carlos?
"PR" – Roberto Carlos é uma instituição e só o Pelé pode ser comparado a ele no Brasil. Ele está acima de julgamento. Ele é uma pessoa histórica, tipo Beatles, não vai haver outra. Eu me sinto um continuador do que ele faz.

* Como você define Roberto Carlos?
"PR" – Roberto Carlos é um fenômeno que acontece uma vez por século. O Brasil tem muitas tristezas e frustrações. É um país riquíssimo mas que está entre as maiores injustiças sociais do mundo. Nós temos algumas pessoas maravilhosas como Ayrton Senna, Pelé, Fernanda Montenegro, que conseguiram nos dar um pouco de orgulho. Sem dúvida Roberto Carlos está nessa lista. Tenho viajado muito pela América Latina e em todos os países onde vou me perguntam muito sobre ele. Sempre me perguntam porque não surgiu um outro grande nome na música brasileira depois dele. Acho que a minha geração se voltou muito para o rock, abandonando a linha romântica, e é essa linha que eu quero seguir. Cada vez mais sinto a importância do Roberto Carlos como ser humano, como artista, como pai, como amigo. Poucos conseguem ter a dimensão que ele tem única e exclusivamente com sua música. A música, para o Roberto, é parte de algo maior. Acho que para ele virar santo falta muito pouco. Ele é uma pessoa sobre-humana nesse território romântico onde ele sempre reinou absoluto e eu me considero um novato. Tudo o que eu faço é uma homenagem a Roberto Carlos.

* Paulo Ricardo, fala um pouco de cada música gravada no CD "Amor de verdade".
"PR" – Sonho lindo - É uma das canções mais tristes gravadas por Roberto com aquele clima de orquestra. Eu escolhi esta canção por isso mesmo, pela tristeza que ela tem, apesar de não realçar isso porque eu acho que a canção em si já passa essa tristeza.
Ninguém vai tirar você de mim – É a minha favorita. É daquelas que ouvi com Roberto e sonhei que gravaria um dia. É muito simples, muito bonita e, de certa forma, a mais pop. É onde as minhas influências de pop rock ficam mais claras. Quem assistir aos shows dessa tournée vai entender isso.
Por amor – Eu a considero uma das mais bonitas da dupla Roberto e Erasmo Carlos, uma das mais emocionantes. É uma das minhas favoritas nesse disco. Essa música não tem como não ser triste e sofrida.
Não há dinheiro que pague – É a mais agitada do disco. Eu só não diria que é um rock porque quando a gente fala de rock no Brasil as pessoas já pensam em metaleiro. Ela tem um sabor latino, uma coisa bem brasileira, tem um swing que faz dela uma das mais modernas e instigantes e, talvez, uma das mais dançantes do disco.
Muito romântico – É a mais recente das que gravei; é de 1977. Das três que Caetano Veloso fez para ele foi a menos tocada nas rádios mas é uma obra de gênio para gênio.
A namorada – É uma música bonitinha falando da namorada que nos espera, do refúgio, do regresso. Tem muito sentido para a gente que vive na estrada fazendo shows e tem sempre uma pessoa que vem de dentro da saudade. É a idealização da musa, da namorada. É uma das mais bonitas do disco, uma grande música.
Eu só tenho um caminho – É um momento visivelmente gospel do Roberto. Ele sempre teve uma influência muito grande do soul-music, apesar de não ser uma coisa muito dita nem muito óbvia. Pra gente que ouvia essas coisas e detectava os sinais de influências fortíssimas de James Brown e Marvin Gaye, essa música é uma das mais bandeirosas, porque tem justamente aquele esquema de resposta gospel.
Uma palavra amiga – Se não for do mesmo disco é exatamente da mesma época, tipo 1970 ou 71. Foi uma música que gravamos em elementos que eu também coloco no meu trabalho em geral, que é essa coisa indiana que os Beatles trouxeram.
Você não serve pra mim – Não pense que eu queria colocar alguma coisa que mostrasse como o Roberto já foi roqueiro. Ele sempre vai ser, obviamente, o nosso Rei, existem vários títulos nessa realeza. Ele foi o rei da juventude, é o rei da música, da indústria fonográfica, enfim ele é bem mais do que um título de nobreza. Talvez seja esse um dos maiores rocks gravados pelo Roberto.

COMO SE FOSSE A PRIMEIRA VEZ
(Paulo Ricardo)

Como se fosse a primeira vez
Desde que eu te conheci
Naquelas tardes vendo o sol se pôr
Que eu procuro descobrir
Novas maneiras de cantar o amor
Sempre tantas emoções
Uma aventura que não tem mais fim
Que eu celebro nas canções
Que eu fiz e que você fez pra mim
Eu falei de todos os detalhes
Do meu amor, da minha paixão
Minhas viagens pelos sete mares
Começo de um namoro no portão
Eu falei dos beijos no cinema
Foi só por isso que eu corri demais
Com a cabeça cheia de problemas
Além do horizonte encontro a paz
A mesma que o seu sorriso
Me traz na hora de dormir
E tudo aquilo que eu preciso
E eu já não posso mais fugir
Falei dos traumas, almas gêmeas
Da hora de se despedir
Falei de sexo, macho e fêmea
E eu não vou me repetir
E não vou dizer mais nada
Feche os olhos e me beije outra vez
Minha amiga, amante, amada
O amor faz suas próprias leis
Nos amamos como se fosse a primeira vez

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