RAFAEL BRAGA
entrevista concedida a Carlos Eduardo F.Bittencourt para o
Grupo Um Milhão de Amigos

10.09.2001




Entrevistar Rafael Carlos Torres Braga, o filho primogênito de Roberto Carlos,
foi mais do que “uma grande emoção”, como diria seu pai e nosso Rei.
Os preparativos para a entrevista, desde o primeiro contato por telefone,
já foram uma surpresa, ou melhor, a consolidação do que já se esperava.
Rafael é ainda mais simpático, simples e amigo do que esperávamos.
Honra o sobrenome que lhe foi oficialmente reconhecido já na idade adulta,
mas que com certeza já o acompanhava desde a infância na definição do seu jeito afetuoso de ser,
no seu jeitinho cuidadoso de buscar caminhos.
Fomos recebidos como amigos e logo nos sentimos à vontade para essa conversa.


* – Rafael, quando você começou a tomar conhecimento de que era filho de Roberto Carlos?
"R" – Quando eu tinha cerca de três anos de idade minha mãe começou a falar sobre meu pai, mas o amadurecimento mesmo da idéia de que meu pai era aquele cantor famoso aconteceu na adolescência, lá pelos meus 16 ou 17 anos. Aí eu comecei a pensar em como iria lidar com isso, ser filho do Roberto Carlos. Mas ainda não me passava pela cabeça abrir o processo de reconhecimento de paternidade, porque naquela época era tudo muito diferente. Hoje as coisas são mais fáceis, mas nos anos 80 era mais complicado e se falava muito pouco em exame genético, o DNA. Só com 17 ou 18 anos é que comecei a amadurecer a idéia de procurar Roberto e ver no que essa história ia dar.

* – Antes de iniciar todo esse processo, você chegou a tentar algum contato com o Roberto Carlos?
"R" – Não, o primeiro contato que tive com ele foi em junho de 1990. Antes disso nunca tentei um contato com ele. Acho que o Roberto Carlos chegou a visitar minha mãe quando ela estava grávida, e talvez até possa ter me conhecido quando eu tinha meses ou um ano de idade, mas sinceramente não sei se isso aconteceu. O certo é que o primeiro encontro que tive com meu pai foi quando eu tinha 24, quase 25 anos.

* – Esse encontro foi antes de você iniciar o processo de reconhecimento de paternidade?
"R" – Quando eu tive o primeiro contato com o Roberto eu já fui com uma série de materiais que eu havia guardado durante todo esse tempo. Eu sabia que quando chegasse a ele eu teria que ir com a maior quantidade possível de provas, inclusive com fotografias da minha mãe, com reportagens da época, para que ele não pensasse que eu era um oportunista. Essa era a maior preocupação minha e de meus advogados. Quando ele viu todas aquelas provas, reconheceu que tinha conhecido a minha mãe, e ele mesmo propôs que fizéssemos um exame de DNA. Na verdade nós fizemos dois exames, um que foi pedido pelos meus advogados e feito num laboratório escolhido pelo juiz, e o outro por sugestão do próprio Roberto, que foi feito numa outra clínica, que ele escolheu. Nós não esperávamos que ele próprio se prontificasse a fazer o exame de DNA numa clínica particular.

* – Isso foi em que ano?
"R" – O processo começou no final de 1989 ou início de 1990, não me recordo direito. Foi quando resolvi juntar todas as provas para poder um dia chegar até o Roberto, o que só aconteceu em junho de 1990.

* – E quais foram os procedimentos de vocês com o resultado positivo?
"R" – Foi uma maravilha, uma grande felicidade, mas aí tivemos que correr contra o tempo. Minha mãe já estava muito mal, com câncer, e eu tinha medo que ela viesse a falecer antes do resultado final. Então fizemos tudo muito rápido, para que pudéssemos colher o material da minha mãe com ela ainda viva. Sinceramente foi um drama, muito difícil. Mas, graças a Deus ainda deu tempo da minha mãe ver a minha nova identidade com o sobrenome Braga. Sem dúvida foi uma grande vitória para ela, que pode morrer em paz.

* – E quanto tempo demorou para resolver tudo judicialmente?
"R" – Foi tudo resolvido em seis meses, acho que foi o processo de paternidade mais rápido do mundo. Naquela época só o resultado do exame de DNA demorava três meses para ficar pronto.

* – Antes de todo esse processo, alguma vez você chegou a ficar perto do Roberto, como um simples fã?
"R" – Uma vez o Roberto Carlos passou de carro pelo centro de São Paulo, e os pedestres logo comentaram que era ele quem estava dirigindo. Mas não consegui chegar perto porque ele logo foi cercado pelas pessoas.

* – Você nunca chegou a ir a um show do Roberto Carlos?
"R" – Não, eu nunca quis invadir a privacidade do Roberto. Eu tinha um pouco de receio do que pudesse acontecer. Na minha cabeça sempre passou a idéia de procurar o Roberto Carlos com toda a documentação e provas que pudessem comprovar que eu era filho dele, para resolver a questão da maneira legal. Eu sempre gostei muito de suas músicas, tinha alguns de seus discos, mas tinha um pouco de receio de chegar perto. Eu achava que não deveria me expor, tinha muito medo de escândalos, de alguém achar que eu estivesse querendo me aproveitar daquela situação, por isso queria fazer tudo direito, de maneira discreta, sigilosamente para não ser mal interpretado. Também eu não tinha dinheiro para ir aos shows.

* – Então, qual foi a primeira vez que você viu seu pai no palco?
"R" – Depois que a questão da paternidade ficou acertada, eu fui a um show dele no Olympia, aqui em São Paulo, isso em 1991. Foi muito legal, muito bacana.

* – E os fãs de Roberto Carlos chegaram a te reconhecer no show?
"R" – Sim, reconheceram, apesar de eu tentar passar despercebido porque não tinha experiência do contato com a imprensa e com os fãs. Mas sem dúvida já começava aquele assédio por eu ser filho do Roberto Carlos.

* – Vendo as fotos do Roberto jovem não há como negar a semelhança entre vocês. Nunca chegaram a te dizer isso, antes do reconhecimento da paternidade?
"R" – Sempre falavam isso, graças a Deus. No começo eu ficava meio sem graça, sem saber o que fazer, mas também achava que a comparação era motivo de orgulho, porque eu sabia que era filho dele.

* – E você não se acha parecido?
"R" – Eu acho que sou um pouquinho, mas não tanto quanto as pessoas acham. Acredito que cada um dos seus filhos, até mesmo a Aninha, que não é filha de sangue, têm traços na fisionomia que lembram meu pai. O perfil do Dudu lembra bastante o Roberto, mas como o Dudu usa o cabelo muito curto não há tanto essa comparação. Muitas pessoas acham a Luciana muito parecida com o nosso pai. Mas encaro sem problemas essa comparação, e até com muito orgulho. Qual o filho que não sente orgulho de ser parecido com o pai? Só que também queria ser parecido no talento.

*– O que sua mãe falava sobre o seu pai?
"R" – Ela sempre me falou muito bem dele. Jamais demonstrou qualquer revolta ou sentimento ruim sobre Roberto. Sempre procurou me explicar que a vida artística não é fácil, que o Roberto tinha feito uma opção pela carreira e que por isso ela resolveu se afastar dele, não exigir nada. Minha mãe me explicou que quando eu nasci, em 1965, o Roberto Carlos estava se consagrando como Rei da Juventude, era o começo da Jovem Guarda, por isso ela não quis atrapalhar a carreira dele. Minha mãe me contava que o Roberto sempre foi muito respeitador, uma pessoa muito boa.

* – Como sua mãe conheceu Roberto Carlos?
"R" – Eles se conheceram num hotel em Minas Gerais. Minha mãe trabalhava de caixa numa empresa de cosméticos, a Niasa, e como era muito bonita os diretores pediram que ela também trabalhasse como modelo da empresa. Em 1964, o Roberto foi fazer um show em Minas e ficou hospedado no mesmo hotel em que minha mãe estava fazendo divulgação dos produtos. Os dois se conheceram e o Roberto começou a paquerar a minha mãe. Parece que eles namoraram durante um ano. O Roberto estava iniciando a carreira, e minha mãe me contava que ele tinha um fusquinha branco. No ano em que eu nasci, 1965, a carreira do Roberto estourou, e ele resolveu agarrar a oportunidade que surgiu, no que estava super-certo, e o namoro deles não prosseguiu.

* – As pessoas de sua família sabiam que o Roberto Carlos era seu pai, ou isso era segredo entre você e sua mãe?
"R" – Os meus familiares sabiam, porque esse assunto nunca foi tabu para a gente. Mas para as pessoas de fora nós evitávamos comentar para que não fosse alvo de fofoca, de gozações. Uma vez, quando eu tinha meus 14 ou 15 anos, a notícia vazou. Minha mãe resolveu contar para umas amigas e essa história acabou chegando até os meus amigos. Eles começaram a “tirar sarro” de mim. Eu me lembro que quando ia jogar futebol, eles logo falavam: “Lá vem o filho do Rei”. E sempre surgiam brincadeiras, mas nunca eram ofensivas, no sentido de humilhação. Sempre me trataram muito bem.

* – Mas nunca houve gozação mesmo entre os colegas?
"R" – Às vezes tinha. Quando eu ia chutar uma bola eles cantavam a música “Amigo”. Era muito legal, para te falar a verdade tenho boas recordações dessa época.

* – Você era fã do Roberto Carlos?
"R" – É uma boa pergunta. Quando eu era criança eu não tinha a menor noção de quem era Roberto Carlos. Mas o primeiro filme que vi na minha vida foi “Roberto Carlos e o diamante cor-de-rosa”, que minha mãe me levou para assistir. Aliás, esse filme marcou a minha vida e me influencia até hoje. Também vi “Roberto Carlos a 300 km por hora”. Só não vi o “Roberto Carlos em ritmo de aventura” porque era muito novo. Hoje eu tenho os filmes em vídeo e vejo “pra caramba”. Foi mais ou menos nessa época que comecei a gostar da carreira do Roberto Carlos, mas ainda havia um distanciamento porque eu não conseguia me ver como filho dele. E olha que o Roberto já era superstar, mas eu não entendia a dimensão das coisas. Hoje, o fã e o filho já andam juntos.

* – Quais músicas do Roberto Carlos são as suas preferidas?
"R" – É lógico que tenho as minhas preferidas como todo fã tem, apesar de haver fãs que gostam de tudo o que o Roberto Carlos grava. Quando era criança, eu gostava de “Amada amante”, “Detalhes”, “Eu sou terrível”, “As curvas da Estrada de Santos”. Das recentes gosto muito de “Mulher de 40”, e de “Amor sem limite”, que eu acho uma obra prima. O Roberto estava muito inspirado quando fez essa música para a Maria Rita. A primeira vez que eu a ouvi foi no show, fiquei muito emocionado. Chorei muito.

* – Quando você era criança houve alguma tristeza por não ter por perto a figura paterna?
"R" – É claro que senti a falta de um pai, mas a minha mãe sempre soube suprir isso. É lógico que mãe nenhuma substitui a presença do pai. Eu tinha meus tios e era neles que buscava a figura paterna. Graças a Deus nunca tive grandes problemas, grandes traumas por causa disso; posso dizer que em relação a isso sou muito bem resolvido.

* – Quando você decidiu procurar o Roberto Carlos, você imaginava que haveria tanta facilidade para ser reconhecido como seu filho?
"R" – Não, eu esperava que fosse um processo doloroso e longo. Até mesmo meus advogados imaginavam que o caso fosse parar nos tribunais e acabaria se tornando público. Eu pensava que seria muito mal recebido pelo Roberto. Na verdade eu me preparei para o pior, esperava que ele fosse me receber com certa frieza, o que não aconteceu. Eu me lembro que o nosso primeiro encontro, em junho de 1990, no escritório dele, em São Paulo, foi durante um espaçozinho que surgiu em sua agenda de shows, já que ele iria começar uma tournée pelo Nordeste. Roberto me surpreendeu com a maneira carinhosa como me recebeu. Recordo que ele estava com o cabelão comprido, era a época em que usava a pena no cabelo. Fiquei muito feliz quando ele me disse que se sentia aliviado e muito bem por estar conversando comigo. Isso mostra que o Roberto Carlos é uma pessoa que se preocupa muito com a ética, a honestidade, não há como negar que ele tem um senso de justiça muito grande. Isso é uma de suas grandes virtudes.

* – Quem estava mais nervoso naquele momento?
"R" – Os dois. Deu para perceber que no começo o Roberto estava bastante nervoso. Estávamos sem saber o que dizer um para o outro, mas depois que começamos a ter assunto para conversar foi beleza pura. Confesso que eu estava muito ansioso por saber qual seria a reação dele e na hora em que olhei para meu pai me passou pela cabeça toda a minha vida. Acho que demorei uns cinco minutos para voltar à realidade. Mas para ele a situação também deve ter sido meio complicada. Imagine um dia aparecer na sua frente um rapaz de 24 para 25 anos dizendo que é seu filho e com inúmeras provas. A reação dele foi a mais espontânea possível. Foi logo dizendo: “Vamos fazer o exame de DNA, Rafaelzinho, para termos realmente uma prova mais concreta, porque muita gente já me procurou dizendo ser meu filho, só que até agora você é o único que está me trazendo provas contundentes”.

* – Rafael, o seu pai nunca escondeu que é muito emotivo e que chora com facilidade. Houve choro naquele encontro?
"R" – Não, pelo contrário, brincamos muito, demos muitas risadas e o Roberto me contou muitas coisas de sua vida. É claro que poderia ser um encontro emotivo, que chegássemos a nos emocionar e chorar bastante, mas não, pelo contrário, foi muito legal por causa do alto astral que rolou nesse encontro. Nós começamos a conversar e na verdade houve um sentimento de alívio das duas partes por estarmos resolvendo uma situação. Isso foi o ponto principal, uma alegria muito grande minha e dele. Com certeza um sentimento de paz que inundou o ambiente.

CE – E como aconteceu a decisão de tornar pública a paternidade?
"R" – Nós deixamos a notícia correr naturalmente, porque seria inevitável que num determinado momento a imprensa descobrisse. Conforme eu ia tirando os meus documentos, já com o sobrenome Braga, era natural que isso vazasse. Mas não procuramos tornar a coisa pública, pois mais cedo ou mais tarde todos saberiam, e também não tínhamos que esconder nada de ninguém. A imprensa é que foi atrás e descobriu tudo. Nós resolvemos iniciar o processo em meados de 1990, mas o caso só foi divulgado em abril de 1991, bem perto dos 50 anos do meu pai.

* – Você sabia que o Roberto chegou a falar que você foi o grande presente que ele recebeu naquele aniversário de 50 anos?
"R" – Que bom, eu não sabia, mas também agradeço a Deus.

* – Você se lembra quando chamou o Roberto de pai pela primeira vez? Foi no primeiro encontro?
"R" – Não, não foi, e também não foi naquele dia que ele me chamou de filho. É claro que tivemos que passar por um período de adaptação, de conhecimento mútuo para chegarmos a esse momento, mas não demorou muito. Acho que em menos de dois meses nós já nos tratávamos por pai e filho. Isso no tratamento verbal, mas no emocional, com certeza isso aconteceu desde o começo, desde o primeiro encontro.

* – E como aconteceu o encontro com seus irmãos?
"R" – A primeira pessoa que manifestou interesse em me conhecer foi a Aninha (Ana Paula), que é a minha grande amiga. Ela foi a primeira que conheci, depois veio o Dudu e por último a Luciana. Hoje, graças a Deus, eu posso dizer com a maior tranqüilidade que me dou bem com todos os meus irmãos. É lógico que tenho mais contato com o Dudu, até porque trabalhamos juntos, somos filhos homens e temos os mesmos gostos, inclusive musicais. Emocionalmente eu considero o Dudu uma pessoa sensacional, adoro todos os meus irmãos, mas ele é maravilhoso.

* – É verdade que você e o Dudu costumam tocar juntos?
"R" – É, às vezes costumamos fazer umas brincadeirinhas na casa dele. O Dudu toca bateria e eu toco guitarra.

* – Mas no início houve uma certa apreensão de como seria recebido pelos seus irmãos?
R – Com certeza, eu fiquei ansioso, o que era natural, mas nunca forcei barra nenhuma. Aliás, eu nunca forcei barra com ninguém, nem mesmo com o Roberto Carlos. Se por acaso ele não aceitasse me reconhecer eu iria embora, jamais iria tentar mover processo, entrar na justiça. Eu não acho legal você ficar forçando alguém a gostar de você. A mesma coisa foi com meus irmãos. Eu deixei que naturalmente houvesse a aproximação porque eu pensava que a iniciativa teria que partir deles, afinal era eu quem estava chegando naquele ambiente. Você tem que conquistar as pessoas aos poucos, e graças a Deus tenho certeza de que fiz o correto, tanto é que temos um ótimo relacionamento.

CE – Sua vida mudou depois de todo esse processo?
"R" – É claro que mudou muito. Assim como aconteceu com a Luciana, o Dudu e a Ana Paula, eu passei a ser muito assediado, o que é normal. Mas esse contato com os fãs é muito bom, porque é uma coisa carinhosa, educada. Eles não são de se intrometer em nossas vidas, são compreensivos, isso é muito legal. Mudou também a minha vida porque o Roberto passou a me ajudar. Eu não sei o que seria de mim hoje se não fosse ele e só tenho que agradecer a Deus por isso. Eu realmente saí do ostracismo, mas não posso dizer que sou um cara famoso.

* – Quando surgiu o cantor Rafael Braga?
"R" – Eu aprendi a tocar violão com 15 anos. Eu já gostava de guitarra e então resolvi aprender a tocar. Durante dois anos tive aulas de violão clássico e popular. A primeira música que aprendi foi do meu pai, “Despedida”, porque tem posições fáceis no violão. Daí fui aprendendo muitas coisas sobre a carreira de cantor, de como subir ao palco, e passei a me interessar por isso. Mas quando o Roberto me assumiu fiquei com medo de prosseguir, de me lançar na carreira artística e ser chamado de oportunista, só que eu vi que isso era bobagem e que tinha mais era que batalhar a minha carreira, optar pelo meu caminho. Se as pessoas me comparassem com meu pai, paciência. Eu tenho o maior orgulho disso. Mas não é só de música que eu gosto, eu sempre tive gosto pela arte em geral e durante algum tempo até me arrisquei a fazer umas poesias. Desde moleque tenho a mania de escrever o que eu sinto. Eu sou um cara muito sentimental, choro muito... Acho até que deve ser hereditário, não é bicho?

* – O seu gosto pela música quando ainda era adolescente tinha alguma ligação com o fato de ser filho do Roberto Carlos, já que você já sabia que ele era seu pai?
"R" – Quem me influenciou mesmo foi a minha mãe. Eu já gostava de música, já curtia, mas só de ouvir. Nunca tinha me passado pela cabeça entrar numa escola de música, tocar um instrumento, e quem deu esse incentivo foi a minha mãe. Acredito que pode ter sido mesmo por ser filho dele, por que não? A minha mãe gostava demais do Roberto e achava que eu tinha que colocar em prática o talento que ela achava que eu também tinha.

* – E como surgiu a decisão de gravar o seu primeiro disco?
"R" – O convite partiu da gravadora. Era uma gravadora independente e pequena. Foi um começo, e realmente um começo difícil e sofrido, mas que me ensinou muito e me proporcionou muitas coisas boas. Essa decisão partiu de mim. Quando meu pai soube que eu iria gravar já estava tudo acertado, e eu acho que essa foi uma decisão certa, porque foi um passo que dei com as minhas próprias pernas. Foi muito legal ver o resultado do meu esforço. E o Roberto não dá moleza para ninguém! Em qualquer coisa nós temos que correr atrás, batalhar. Depois, quando ele vê que você está empenhado naquilo é que ele começa a te apoiar. É claro que ele nos aconselha quando o procuramos para tirar algumas dúvidas e está sempre disposto a nos ajudar. Mas em relação ao meu disco, eu é que tive que correr atrás. Foi aí que eu percebi que o meio artístico é difícil e que você tem que batalhar muito, lutar muito, mostrar que sabe fazer.

* – Como você analisa o resultado do seu disco?
"R" – Todo artista nunca está satisfeito com o seu trabalho, e como sou muito auto-crítico eu acho que o disco poderia ser muito melhor, poderíamos tê-lo feito com mais cuidado. Mas valeu, porque eu percebi todas as dificuldades da profissão. Os problemas de divulgação, de acreditar no trabalho, de levar para as rádios e programas de TV... Isso foi interessante. Eu não ganhei dinheiro com ele, e nem sei quantas cópias foram vendidas, porque a gravadora faliu. Mas é o começo e tenho certeza de que no próximo, que irei gravar em breve, muitas coisas serão corrigidas. Mas a análise que faço é a de que o disco poderia ter sido bem melhor, bem melhor mesmo. Mas tudo bem, foi o começo.

* – Quando você lançou o disco, você refletiu bem sobre as comparações que surgiram com o seu pai?
"R" – Eu pensei e pensei muito, sabendo que as comparações viriam. Eu procurei fazer um disco que ficasse diferente de tudo o que o Roberto faz, mas que fosse um disco romântico, que também é o meu estilo. Mas é aí que vem o aprendizado e foi quando eu aprendi que não devia ligar para essas comparações. Eu tinha que fazer o meu trabalho com tranqüilidade, espontaneidade, e se quisessem me comparar com ele, tudo bem. Só que o Roberto tem mais de 40 anos de carreira, um cantor super afinado, um senhor intérprete, um grande compositor, e nos comparar é covardia porque eu estava começando e o meu pai está anos luz adiante, não tenho como alcançá-lo. Mas sei que essas comparações sempre vão acontecer. Tenho que me preparar para isso e aceitar numa boa.

* – Quando você resolveu comunicar ao Roberto que iria gravar um disco?
"R" – No nosso primeiro encontro, em 1990, eu já falei que cantava, mas naquela época nunca tinha me passado pela cabeça gravar um disco. Quando recebi o convite e vi que era sério, tratei de conversar com ele. Recebi o maior apoio. Ele me incentivou, elogiou o meu mérito por eu ter conseguido realizar meu sonho através do meu próprio esforço, e aceitou numa boa, foi tranqüilo.

* – O “Louco por você”, primeiro disco do Roberto, hoje é uma raridade. Você acredita que esse seu primeiro disco possa seguir o mesmo caminho?
"R" – Deus te ouça, mas Deus te ouça mesmo, porque o “Louco por você” foi o começo de tudo para o Roberto, e depois dele a carreira do meu pai decolou, foi o início de tudo o que ele é hoje. Se o meu disco se transformar numa espécie de “Louco por você” e eu chegar a um terço do que meu pai é hoje, eu estarei realizado.

* – Por que você escolheu “De tanto amor”, a única música que gravou do repertório do seu pai?
"R" – Toda a vez que escuto essa música me lembro do filme “Roberto Carlos a 300 km por hora”, que no final tem uma cena tipo vídeo clipe. Eu acho tão linda, tão maravilhosa, que me arrisquei a gravar. Ela é demais. O curioso é que eu queria gravar uma música dele que ainda não tivesse sido regravada, mas depois descobri que ela já tinha sido gravada pela Roberta Miranda, pela Claudette Soares e por muita gente, mas a versão do Roberto Carlos é insuperável. Em cada disco eu pretendo fazer uma regravação de alguma música do meu pai, e tenho muita vontade de gravar “Como dois e dois”, mas de repente pode entrar alguma música da década de 60, como “Negro gato”, um rock-and-roll da Jovem Guarda. Vamos ver, porque está difícil escolher.

* – Como estão os preparativos para a gravação do segundo disco?
"R" – Eu já estou preparando, já tenho várias músicas prontas, mas não posso adiantar mais coisas porque ainda faltam detalhes para acertar com a gravadora. Também não posso ainda dizer qual é a gravadora, porque tenho três propostas. Vai ser um disco romântico, que fale de amor de uma forma real, aquele que a gente vive no dia-a-dia. Eu pretendo buscar uma identificação direta com o público. Eu quero muito buscar essa identificação com o povo, não importa que seja homem ou mulher, rico ou pobre, mas que cada um se sinta dentro da realidade de cada música.

* – Já pensou na possibilidade de um disco só com músicas do seu pai?
"R" – Já me fizeram essa proposta, mas acho cedo, tenho que percorrer um longo caminho para gravar um disco “Rafael Braga canta Roberto Carlos”. É uma responsabilidade muito grande, e eu tenho que evoluir muito como cantor para chegar a esse ponto. Hoje é uma responsabilidade muito grande eu, como filho, fazer um disco só com músicas do Roberto. Mas essa proposta já me foi feita. Eu convidei o Dudu para tocar bateria no meu novo CD e você sabe que ele até ficou animado? Algumas pessoas já me perguntaram se eu gravaria no estúdio do meu pai, mas isso fica difícil porque ele está o tempo todo ocupando o estúdio. O trabalho do meu pai sempre tem prioridade porque já existe toda uma estrutura montada, um organograma para os seus discos. Por enquanto não acredito que esse disco seja gravado lá. Mas quem sabe no futuro?

* – Já surgiu alguma parceria com seu pai, mesmo de brincadeira?
"R" – Eu e o Dudu já fizemos um convite para ele um dia ir à casa do Dudu e fazermos uma brincadeira, ele cantando, eu na guitarra e o Dudu na bateria. Ele até brincou e disse que se estivéssemos precisando de um cantor que ele iria. Olha só, o Roberto Carlos falando isso para a gente, que loucura! A hipótese foi levantada, mas a gente morando em São Paulo e ele no Rio fica meio complicado. Mas um dia, quem sabe?

* – Você acha que o seu pai retornará ao antigo ritmo de shows, com agenda lotada?
"R" – Apesar de os críticos considerarem Roberto Carlos previsível, eu acho que tudo o que se refere à sua carreira é imprevisível. Vocês do Grupo Um Milhão de Amigos, que conhecem bastante a vida do Roberto Carlos, devem concordar comigo. De repente ele está fazendo poucos shows, até mesmo por causa desse compromisso com a MTV que já vem desde maio, quando gravou o disco. Depois dessa fase de gravação, ele pode retornar aos palcos com força total. Eu sei de uma coisa, ele nunca comentou comigo sobre parar de cantar. Acho que ele diminuiu o número de shows por causa disso, e vocês sabem que quando ele está gravando fica quase 24 horas por dia trancado no estúdio fazendo o disco do jeitinho que ele quer. Mas diminuir as apresentações como uma coisa pensada, eu não acredito. Eu tenho quase certeza de que ele vai retornar aos shows com força total. O Roberto sempre surpreende o seu público.

* – Eu quero fazer uma pergunta para o cantor, não para o filho. Como você recebeu o convite para participar do Especial Roberto Carlos de 1996?
"R" – Como uma responsabilidade tão grande... Imagine cantar com um cara que canta demais, interpreta como ninguém! Ele domina tudo no palco, é só dar uma piscada com os olhos para o pessoal da banda que eles sabem a hora exata de entrar o naipe de metal ou de dar uma virada de bateria. O Roberto é um cara que sabe tudo ali no palco. Agora, imagine um cantor iniciante dividir o palco com ele? Nossa, eu cantei engasgado, porque sentia vontade de chorar o tempo todo, mas tive que me conter porque sentiria vergonha se chorasse naquele momento. Por isso eu cantei preso, muito emocionado. Foi uma loucura. O discurso que o Roberto fez antes de eu entrar no palco foi muito legal. Eu lá nos bastidores esperando para entrar no palco e ouvindo aquilo tudo que ele falou... Eu não esperava; foi uma surpresa. Não sei nem o que dizer, foi Deus quem segurou a minha emoção e evitou que eu desabasse de choro no palco.

* – Como foi o convite?
"R" – O Roberto me pegou desprevenido. Ele ligou para a minha casa e perguntou se eu queria participar do Especial. Eu nem acreditei que fosse verdade, quase desmaiei, meu Deus do Céu! Por isso que eu falo que ele é imprevisível, a gente nunca sabe o que se passa na cabeça dele.

* – Como foi a escolha da música?
"R" – Foi uma escolha em comum acordo. Na verdade eu queria cantar “De tanto amor”, que eu tinha gravado, mas o diretor do Especial, Jorge Fernando, pediu para que eu escolhesse outra, porque a Roberta Miranda iria cantar essa música com o Roberto no Especial, e os dois já haviam ensaiado. Então, me reuni com meu pai no camarim e apareceram várias opções. Algumas músicas foram logo descartadas porque eu não conseguiria atingir a nota, teve uma que ele não quis porque disse que não canta mais, e então ele sugeriu “As curvas da Estrada de Santos”, porque a orquestra já estava acostumada a tocar e não haveria problema de ensaio. Eu fui com a cara e a coragem.

* – Essa música que seu pai se recusou a cantar, porque não canta mais, é “Quero que vá tudo pro inferno”?
"R" – A própria, essa mesma.
* – No dia do Especial, Vera Marchisiello, coordenadora do Grupo Um Milhão de Amigos, estava sentada na frente da Marta, sua esposa, e disse que ela estava muito emocionada. Conte um pouco da reação dela?
"R" – Ela realmente ficou muito emocionada. A Marta estava grávida do João Paulo, com cerca de oito meses, e ficou muito feliz.

8* – Fale um pouco do vovô Roberto Carlos?
"R" – Ele é muito exigente, muito preocupado com os meninos, procura saber tudo, se eles estão comendo direito, o desempenho na escola. Quando ele sabe que a gente vai levar os meninos ao médico liga para saber notícias. Conversa com eles pelo telefone, ele é muito legal, e dentro da sua possibilidade de tempo é muito participativo. Não só com meus filhos, mas também com a Giovana, filha do Dudu. Ele faz todas as vontades, e fica zangado quando chamamos a atenção das crianças. Ai de nós se chamarmos a atenção dos meninos na frente dele, aí é ele quem chama a atenção da gente.

* – Eles já foram a shows do Roberto?
"R" – Não, ainda são muito pequenos, o João Paulo tem quatro anos e a Maria tem somente dois anos. Eu fico com certo receio de tumulto. Mas acho que o João Paulo já pode ir.

* – Como eles reagem quando o avô aparece na televisão?
"R" – Vou até contar uma história engraçada. Uma vez estávamos no supermercado e ninguém tinha me reconhecido. Passamos em frente à banca do jornal do supermercado que tinha uma revista “Caras” com o Roberto na capa e o João Paulo começou a gritar: “Olha o vovô Beto!” Aí já viu, todo mundo me olhou e logo me reconheceu. A Maria está indo pelo mesmo caminho, só que ela ainda o chama de “bobô”. Eu e a Marta procuramos já ir trabalhando a cabeça deles, mostrando que o avô é uma pessoa pública, para que se acostumem com essa idéia.

* – Sabe-se que foi o Roberto quem escolheu o nome dos seus filhos. Por que a escolha?
"R" – O João Paulo foi por causa do Papa, e a Maria se chama Maria José por causa da Sagrada Família. Eu achei legal, sabe bicho, e se tivesse mais filhos com certeza eu iria pedir para que ele escolhesse os nomes novamente. O engraçado é que chamamos a Maria José só de Maria, mas o Roberto só a chama de Maria José, e enche a boca quando fala o nome dela. Eu acho o maior barato. Ele realmente demorou um pouquinho para escolher os nomes e em relação à Maria eu estava quase colocando o nome de Maria Clara, por causa de Santa Clara, mas gostei da sugestão dele. Ficou bonitinho. E por coincidência eu até tenho uma tia, uma das minhas prediletas, que também se chama Maria José.

* – Quando você irá participar do programa do Dudu na Rádio Nativa FM?
"R" – Eu já participei do programa na América Sat, e ele já me fez um convite para participar do programa na Rádio Nativa. Quem sabe se quando eu lançar o próximo CD não consolidamos a idéia, eu participando do programa para falar sobre nosso pai e lançar o disco? O Dudu é um cara muito legal, ele sempre me apoiou muito, é outro a quem sempre recorro para pedir opinião, com quem procuro conversar, com quem posso contar para desabafar problemas. Nosso relacionamento é muito bom, uma maravilha.

* – O Dudu é o melhor garoto-propaganda do Grupo Um Milhão de Amigos, pois está sempre falando do nosso trabalho no seu programa da Rádio Nativa e pela América Sat, que vai para todo o Brasil.
"R" – Eu já ouvi várias vezes ele falando bem da Vera Marchisiello e do Grupo Um Milhão de Amigos. Isso é muito legal, afinal vocês são poderosos, vocês têm um acervo gigantesco do Roberto. Eu nem sei porque estou dando essa entrevista porque vocês têm e sabem tudo sobre o Roberto. O Dudu gosta muito de vocês.

* – Fale um pouco sobre sua função na RC Produções Artísticas?
"R" – Eu sou formado em administração de empresas e também sou técnico em contabilidade. Sou eu quem trato da parte burocrática e administrativa da empresa mas também ajudo um pouco na parte artística.

* – Roberto é tudo aquilo que você imaginava que fosse antes de conhecê-lo?
"R" – É muito mais. Ele superou em muito as minhas expectativas. Como eu já falei, nem imaginava que ele fosse me receber no escritório no nosso primeiro encontro. Eu nunca na minha vida imaginaria subir ao palco para cantar com meu pai, sinceramente nem em delírio acreditaria que isso viesse a acontecer. Meu pai pegando meu filho no colo nunca passou pela minha cabeça. Isso só pode ter a mão de Deus!

* – O que você mais admira no ser humano Roberto Carlos? Como você o define?
"R" – Admiro a coerência. Ele é ético e muito sincero com as pessoas. O Roberto faz as coisas certinhas, com começo, meio e fim. Aquilo que ele faz pode demorar, mas ele cumpre, tem palavra. É um cara muito honrado, eu o admiro em tudo, é uma pessoa maravilhosa... Eu nem sei o que mais dizer. Meu pai é um cara que gosta de fazer as coisas corretas, mas da maneira dele. Roberto não faz nada de qualquer jeito. Antes de tudo ele busca a justiça de Deus. É uma pessoa admirável. Precisávamos ter muitas pessoas iguais a ele, com toda essa garra que meu pai tem para fazer as coisas certas.

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