ROBERTO CARLOS
Transcrição: Carlos Eduardo F.Bittencourt para o
Grupo Um Milhão de Amigos

16.09.1988




Roberto Carlos é papo firme, e não há nada melhor do que ouvir ou ler suas entrevistas,
mesmo que antigas, quando queremos senti-lo mais perto de nós, não é verdade?
Foi pensando nisso que resolvemos recapitular aqui uma das suas entrevistas mais descontraídas,
dada a Léo Jaime em Los Angeles, e exibida pela TV Globo em 16 de setembro de 1988
sob o título de “ROBERTO CARLOS IN CONCERT”.

* LJ – Depois de mais de vinte anos de conquistas, vitórias, sucessos, de primeiro lugar absoluto, de ter feito tantas músicas lindas, shows inesquecíveis, o que te motiva a manter esse mesmo ritmo de trabalho?
"RC" – Eu adoro o que faço, eu amo realmente o que eu faço. Cantar, para mim, é minha vida. Então, todas essas coisas que fazem parte do cantar são sempre maravilhosas. Eu tenho cantado principalmente o romantismo, o amor, e só o fato de sempre ter algo novo para falar do amor já me motiva. É uma grande motivação encontrar alguma forma nova de se falar do amor, descobrindo que ele pode ser falado das mais diferentes maneiras.

* LJ – Você sabe que é você quem embala os momentos de amor dos brasileiros. Ninguém traduz melhor do que você situações de amor e, obviamente, quando as pessoas estão fazendo amor elas estão ouvindo Roberto Carlos. Já aconteceu de você estar “naquela situação” e tocar uma música sua no rádio? O que você faz?
"RC" – Depende do momento, Léo... Tem hora que a gente não pode prestar atenção na música e a melhor forma é encarar como fundo musical.

* LJ – É verdade que o Caetano se inspirou numa conversa de vocês para fazer “Força estranha”?
"RC" – Pelo menos é isso que ele conta. Uma vez encontrei com o Caetano nos corredores da Globo e ele começou a falar “Como você está jovem, o tempo não passa para você? Está apenas com um pouquinho de cabelos grisalhos!” E eu falei: “Caetano, o artista nunca envelhece”. E segundo ele, foi essa conversa que o inspirou a fazer “Força estranha”.

* LJ – Você tem medo de envelhecer?
"RC" – Medo, não, medo realmente não. Mas a gente sempre procura manter uma certa forma. Eu acho que isso é natural do artista, principalmente porque estamos sempre aparecendo na televisão e nos palcos. Então sempre tem essa preocupação, acho até que é da vaidade humana tentar ficar bonitinho. Mas para sermos artistas temos que ter um pouquinho mais de cuidado, de dar um pouco mais de brilho, vamos dizer assim. Faz parte do trabalho.

* LJ – Mas o artista nunca envelhece, você concorda?
"RC" – Pelo menos é isso que está na música, nunca envelhece... que bom, não é?

* LJ – O que você diria de suas músicas antigas continuarem fazendo sucesso, na voz de outros cantores?
"RC" – É uma maravilha ver tudo isso revivido, principalmente por você, que gravou maravilhosamente bem uma música nossa, minha e do Erasmo, “Gatinha manhosa”, e pelo Caetano, com a gravação de “Fera ferida”.

* LJ – O que é mais importante para fazer músicas, a inspiração ou a transpiração?
"RC" – Eu acho que as duas são muito importantes, pelo menos no meu caso andam sempre juntas, porque a inspiração sempre acontece num momento inesperado, e naquele momento você coloca na música tudo que ela te traz. Mas depois vem sempre a transpiração, porque você tem que dar forma a tudo aquilo que a inspiração te trouxe. Tem sempre aquele momento em que você diz: O que vou fazer agora além disso? E aí é o momento da transpiração, de desenvolver aquilo que a inspiração te trouxe. Mas o princípio básico, para mim, é sempre a inspiração.

* LJ – Já aconteceu de você acordar de madrugada e surgir uma música?
"RC" – Muitas vezes. Outro dia mesmo eu estava trabalhando à noite, aqui mesmo em Los Angeles, no hotel, fazendo a tradução de uma música do Roberto Livi, que gravei em espanhol e que vou gravar no meu próximo disco em português, quando, por volta das duas horas da madrugada resolvi parar. Eu já estava ficando cansado e já ia parar quando, desligando o piano, fiz uns acordes sem a menor pretensão e começou a surgir uma outra música, com letra e tudo. Duas horas e meia depois ela estava pronta. Essas coisas acontecem muito, com muita freqüência.

* LJ – Qual é o seu prato predileto?
"RC" – Meu prato predileto é um peixinho, já que eu não como carne. E sempre que como peixe eu me lembro dos peixinhos de Cachoeiro, de Marataízes...

* LJ – Qual o filme que você mais gostou?
"RC" – Ah, “Síndrome da China”, que é um filme muito bom, com uma boa mensagem. Isso é importante. Às vezes a gente pode até gostar de um filme e ele não passar uma boa mensagem, mas “Síndrome da China” tem uma mensagem bonita.

* LJ – Quais os clássicos do cinema que marcaram sua vida?
"RC" – “Piquenique”, que foi uma coisa maravilhosa! Que filme de amor bonito, que romantismo! Uma obra incrível e fantástica para aquela época! Maravilhoso! Tem outros filmes também, como tudo do Carlitos.

* LJ – Quais as coisas que te fazem chorar?
"RC" – Eu choro fácil, Léo. Quando me agradam muito já fico emocionado. E não seguro, não. Acho chorar uma coisa natural, principalmente de emoção. Quando tenho que chorar, choro mesmo.

* LJ – Por que você decidiu cantar “Imagine”, de John Lennon, no show “Detalhes”?
"RC" – John Lennon fez um trabalho muito importante, falou da paz e do amor, e isso é muito importante. Principalmente porque ele usou as formas mais inesperadas, inimagináveis, vamos dizer assim, para falar do amor e da paz. John Lennon fez um trabalho lindo nessa música, que é para a gente respeitar sempre.

* LJ – Quais as músicas que não saem do seu aparelho de som?
"RC" – Gosto de tudo tipo de música: sertaneja, clássica, popular, rock-and-roll, ouço de tudo. Gosto de todo tipo de musica, desde que seja boa. É muito difícil escolher uma. São muitas as preferidas. Eu ouço muita musica, para me atualizar sempre.

* LJ – Mas qual é aquela que você gosta mais?
"RC" – Deixe eu ver a primeira que me vem à cabeça... “O que será”, do Chico Buarque, é uma música que eu sou apaixonado, é uma das coisas mais bonitas que eu já ouvi. Tem “Professorinha”, do Ataulfo Alves. Ah, essa é linda! E “Quem há de dizer”, do Lupcínio Rodrigues também é maravilhosa.

* LJ – E das estrangeiras?
"RC" – Tem “Ruby” e “Laura”, que são duas músicas que eu cantei há muito tempo em um show. Tem muita coisa bonita, muita.

* LJ – E do rock-and-roll?
"RC" – Olhe, eu gosto muito de “Hound dog”, e de tudo do Elvis Presley.

* LJ – E da turma que está surgindo agora?
"RC" – Eu continuo muito fã do Herbert Vianna, do Ultraje a Rigor, dos Titãs. Dos artistas daqui de fora eu fiquei impressionado com uma cantora chamada Tracy Chapman. A maneira de ela cantar é inesperada.

* LJ – Qual foi o seu maior ídolo?
"RC" – Eu tenho muitos ídolos, sabe, muitos ídolos. Quando eu era garotinho, meu primeiro ídolo foi Bob Nelson. Cantava as canções dele, coisas que me lembro até hoje. Depois vieram outros ídolos, como Nelson Gonçalves, quando comecei a cantar, Albertinho Fortuna... Mais adiante, na minha adolescência, Tito Madi, que para mim ainda é um ídolo da canção romântica. O vozeirão do Tito Madi é uma coisa maravilhosa. Tem ainda o Tony Bennett, Elvis Presley, Beatles, uma maravilha... Então tenho tido grandes ídolos. Erasmo Carlos é meu grande ídolo, com certeza o maior.

* LJ – Você acha mesmo que o mundo vai acabar?
"RC" – Eu não sei exatamente como é essa questão de o mundo acabar, mas ao ler a Bíblia a gente chega à conclusão que várias coisas que estão acontecendo agora fazem parte do apocalipse. Então o apocalipse não está começando agora, ele já começou há muito tempo.

* LJ – Você acredita num mundo novo?
"RC" – Eu acredito em tudo o que a Bíblia diz, porque ela é a palavra de Deus. Por isso acredito num mundo novo, nesse mundo que há de vir. Quando Erasmo e eu fizemos “Apocalipse”, quisemos no final falar desse mundo novo, porque esse é o mundo esperado por todos. Logicamente é preciso que o homem se prepare para ele, mas para chegar a esse mundo novo muita coisa ainda vai acontecer. Pelo menos é assim que está escrito.

* LJ – Qual é a sua missão?
"RC" – Eu não sei, eu acho que cada um tem uma missão aqui na Terra, todos nós temos uma missão a cumprir aqui. Acho que a minha é cantar. * LJ – Roberto, um garotinho lá de Goiás tinha um grande sonho que eu acho que hoje você vai realizar. Roberto, você poderia dar um autógrafo na minha camisa?

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